Seguidores lançam na rede virtual seus candidatos favoritos; partidos comemoram, mas negam ingerência
Clarissa Oliveira, Roberto Almeida e Silvia Amorim
Partidos negam qualquer responsabilidade por slogans que se multiplicam na rede. Na prática, a ordem é não criar obstáculos, já que a manifestação de simpatizantes é liberada. O que a Justiça veda é o uso disso por partidos e candidatos.
Dessa forma, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), já tem pelo menos seis blogs em apoio a sua candidatura. Ela supera os dois pré-candidatos do PSDB, os governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais. Cada um deles é tema de quatro blogs.
Serra é campeão de registros no site de relacionamento Orkut, servindo de tema para 139 comunidades. Destas, 35 têm por objetivo atacá-lo. Já Dilma conta com 63 comunidades, sendo 11 contrárias a sua candidatura. E Aécio aparece em 111, 18 contra ele.
Serra também lidera a audiência na rede social Twitter, que virou febre ao permitir a troca de mensagens rápidas numa espécie de miniblog criado para cada usuário. Apesar de haver apenas 9 registros com seu nome, contra 15 de Dilma, o tucano atrai quase 12 mil seguidores – pessoas que acompanham em tempo real todas as mensagens postadas por um usuário. Nos registros em apoio à petista, há menos de 1.000 seguidores. Já Aécio tem 500 seguidores para dois registros.
O sucesso de Serra deve-se, em grande parte, ao fato de ele próprio ser o autor das mensagens postadas com o login joseserra_. Desde 18 de maio, quando foi criado, até ontem, seu miniblog tinha quase 7 mil seguidores. O governador nega qualquer interesse político-eleitoral. Política é assunto proibido no blog. Em resposta a um de seus seguidores, Serra mandou um recado. “Política, não, @ca_freitas”, twittou.
AUTORES
Tanto no lado petista quanto no tucano, o apoio virtual vem de longa data. O movimento pró-Serra na rede começou em 2007 com um blog ativo até hoje. O de maior popularidade, entretanto, é o mantido pelo Movimento Eu Quero Serra Presidente. De iniciativa de jovens ligados à Juventude do PSDB e DEM, ele existe desde janeiro.
Em 2008, o servidor Daniel Bezerra, que trabalha no governo do Ceará, criou o Blog da Dilma. Hoje, cinco pessoas atualizam diariamente a página. “Mas ninguém recebe nada por isso”, garante o editor, que usa o codinome Daniel Pearl, em homenagem ao jornalista americano sequestrado e morto no Paquistão. Bezerra já conversou em mais de uma ocasião sobre o blog com o presidente do PT cearense, José Ilário Gonçalves Marques. “Ele disse que o partido não iria ajudar, nem atrapalhar.” Ilário diz que Bezerra lhe pediu ajuda financeira e promocional, mas garantiu que a resposta foi negativa. Ainda assim, o blogueiro levantou R$ 10 mil para pagar adesivos com o slogan Dilma Presidente. “Fizemos uma vaquinha”, diz.
Além de mensagens de apoio e publicidade aos atos de seus candidatos, alguns sites realizam enquetes. Em uma das páginas em apoio a Aécio, a pergunta colocada é “Quem deve ser o candidato a presidente do PSDB (Aécio ou Serra)?”. Um outro pergunta: “Quem deve ser o vice de José Serra ?”.
Outro site em apoio ao mineiro, o http://www.aecioneves2010.com.br, é mantido por uma equipe liderada pelo estudante Ronaldo Terra. A página é resultado de seu projeto final de graduação em marketing. “Aécio tem uma ?presença web? muito mal administrada”, criticou.
A suspeita de que esse tipo de movimentação tenha por trás os partidos é logo rechaçada por dirigentes do PT e do PSDB. “São iniciativas dos próprios internautas, que não têm nada a ver conosco”, afirma o secretário de Comunicação do PT, Gleber Naime. “Não podemos ter qualquer relação com isso. Mas acho que eles retratam a filosofia da internet. Aparecem, se desenvolvem espontaneamente”, diz o vice-presidente do PSDB nacional, Eduardo Jorge.
De qualquer forma, tucanos e petistas já se preparam para utilizar a internet na campanha do ano que vem. O PT torce por uma mudança nas regras de uso eleitoral da rede. Se for liberado, o plano é contratar um time especializado e estudar mecanismos de arrecadação online. “Vamos ter que contratar gente para fazer frente a essa guerrilha”, afirma Naime.
Já o PSDB montou um grupo de trabalho e vem estudando as ferramentas a serem exploradas na eleição. “O próprio Serra e o Aécio cobraram do partido uma presença mais forte na internet para divulgar as ações do partido. Não podemos ficar para trás”, diz o secretário-geral do PSDB, deputado Rodrigo de Castro (MG).